quarta-feira, 19 de junho de 2013

O inverno da minha desesperança


Li há pouco um texto que tinha tudo para ser lúcido, não terminasse fazendo uma intransigente defesa do governo – e que, por malandragem, deixa implícitos elogios também ao período Lula. Concordo com o autor somente que os protestos que temos visto nos últimos dias correm um sério risco de dar em nada, que daqui a mais uma semana (será?) as coisas voltam àquela normalidade a que tristemente já nos acostumamos: corrupção sem qualquer punição, justiça generosa para quem está no andar de cima, classe política totalmente desconectada daquilo que a sociedade quer e deseja... Não vou nem sequer entrar nas recentes questões econômicas (baixo crescimento, pouca competitividade, carga escorchante de impostos, inflação ladeira acima) para não abrir assim tanto o leque.


Queria muito que essas manifestações, para mim atos de uma população que está de saco cheio e pede mudanças – mesmo! –, continuassem indefinidamente. Queria que o país realmente parasse, que governos e políticos se sentissem emparedados e que a justiça se fizesse justa. É a única forma que vejo para as coisas acontecerem. Porque, se dentro de mais alguns dias todos voltarem para casa, os cínicos, os maus, os trapaceiros, os calhordas terão ganhado.

Ganhado e, pior, consolidado a certeza de que a população que esperneia é a mesma que cansa rápido. Aliás, corrigindo: essa certeza já têm. Daí porque a fé na impunidade e na ignorância que tão cuidadosamente professam – para os outros, não para eles.

Copa, transporte público precário, saúde vergonhosa, educação de fancaria... Escolha um mote para protestar? Temos! Nada disso é recente e, para meu desapontamento, vai continuar assim que a onda quebrar na praia.

Não me lembro de ter visto, aqui em Brasília, onde vivo e trabalho, uma única e recente manifestação contra os nojentos ônibus que servem à população. Sou residente da cidade desde 2007 e não me recordo de um só coletivo depredado em protesto contra o mau atendimento.

Quer dizer, o pau podia ter quebrado antes. Adiantaria? Quem sabe?

Nenhum desses argumentos para os protestos é novo. O copo transbordou? Não sei, tenho dúvidas. De repente, Brasil na final da Copa das Confederações contra a Espanha dá um baile de bola e no dia seguinte a indignação se foi. Ou melhor, voltou para o congelador.

Não que a seleção tenha culpa de coisa alguma ou que as copas, das Confederações e do Mundo, sejam um mal em si mesmas. Isso é burrice. Mas nenhum dos dois torneios foi escolhido ontem. Faz tempo que estão marcados. E já se sabia que as obras nos estádios e de mobilidade urbana fariam muita gente ter frouxos de riso com o dinheiro que faria. Aprovaram até mesmo um Regime Diferenciado de Contratação para que não houvesse contratempo nas licitações.

O RDC passou ruidosamente pelo Congresso, foi sancionado e... Deram de ombros!

Vá lá que os otimistas digam que primeiro vêm os sintomas para que a doença exploda. Tudo o que veio antes serviu para ir enchendo o saco até que arrebentasse. Bem, não creio nisso. Não é razoável acreditar que, em plena era da internet, em que se sabe de tudo (ainda que se discuta a veracidade e a precisão de muitas informações que circulam), ninguém tivesse percebido nada. Ou que apenas eu tenha visto.

O que eu fiz, hão de perguntar? Dei minha opinião, franca, desagradável e aberta, por onde quer que fosse. Mais do que isso é impossível fazer. Jamais me imolaria em praça pública, tal como os monges budistas fizeram em Saigon, na Guerra do Vietnã. Meu holocausto não faria a causa andar mais rápido e ainda haveria quem me chamasse de estúpido. E seria, de fato, uma estupidez que somente renderia fotos nas primeiras páginas, dando-me uma celebridade indesejada.

Assim, exceto pelo vandalismo – difícil purgar vagabundos e marginais quando se está falando de milhares de pessoas nas ruas –, apoio rigorosamente tudo o que tem sido feito, protestado, gritado, mostrado. Mas lastimo que isso não vá muito longe e que até o final do ano não se fale mais em passeata alguma, que as indignações voltem a dormir sono profundo e que todos estejam rendidos ao cotidiano massacrante e injusto.

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