quarta-feira, 12 de junho de 2013

Assim regride a humanidade

Têm expressões que considero muito estúpidas. Mas uma está entre as cinco mais: mídia conservadora. Gostaria de saber quando a mídia, nesse caso a imprensa, foi progressista. Hélio Fernandes pode não ser autor citável, mas cansou-se de me dizer uma frase que considero lapidar: "Desde que Gutemberg inventou os tipos móveis, acabou-se a liberdade de imprensa".

A imprensa jamais foi progressista. Sempre foi conservadora, e isso é por definição. Todo e qualquer instrumento de poder é conservador. Exércitos são conservadores, assim como cleros, parlamentos. Representam um estamento, no conceito weberiano de que significa uma teia de relacionamentos que constitui um poder e influi num campo de atividade.

Não se pode dizer que a Tribuna da Imprensa dos tempos de Carlos Lacerda, que era oposição ao governo Vargas, era progressista. Tampouco que a Última Hora de Samuel Weiner, que era a favor do até bem pouco tempo antes caudilho, era conservadora. Uma era contra, outra a favor do governo. Ponto.

O Estadão não reconhece o período em que ficou sob intervenção, no Estado Novo. Ou pelo menos não reconhecia, pois fazia questão de ressaltar o hiato no expediente, relativo ao período em que Julio Mesquita foi afastado do comando do jornal por artes e manhas de Lourival Fontes. Hoje, o Estadão é considerado primor do conservadorismo. Jornalístico e social.

Tudo depende dos olhos de quem vê. Inventaram até mesmo um certo Partido da Imprensa Golpista. Como assim? Imprensa, progressista, então é o Granma pelo simples fato de que é o órgão oficial do Partido Comunista Cubano. Ou o Libération, francês. Então, é de esquerda, é progressista?

Esse maniqueísmo político unido à desonestidade intelectual é cansativo. Para mim, parece que quanto tempo mais faço jornalismo, mais vejo o pensamento andar para trás. Me dá uma desesperança, um pessimismo horroroso, se continuarmos discutindo as coisas dessa maneira.

Hão de dizer que sou conservador, depois de lerem o pouco que escrevi aqui. Se fosse, não tinha problema. Mas não sou. Quando lembro de figuras como Roberto Cardozo Alves, de José Lourenço, de Inocêncio de Oliveira, entristeço. Exceto pelo homem dos poços artesianos no sertão pernambucano - que serviu a vários senhores e servirá a quantos mais vierem -, os dois primeiros eram convictos direitistas, empedernidos conservadores.

O que veio depois disso é melhor? É progressista?

Reaça! - certamente gritarão. "Bouche fermée, colabó" - rebato eu.


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